
Surge uma grande emoção ao saber que está grávida, ao mesmo tempo uma insegurança quanto ao que vai acontecer e como será o amanhã, pois a partir daquele momento sabemos que a vida de uma criança está sob nossa responsabilidade, ainda que dentro do ventre.
São dias e noites com sensações maravilhosas e outras nem tanto assim, mas passamos por tudo sabendo que é para o bem do bebê que está por vir.
O amor vai crescendo e a partir do momento que o bebê começa a mexer a ponto de o sentirmos, aí sim percebemos que é realmente verdade, apesar de antes já termos ouvido seu coraçãozinho bater.
Andamos conversando com o bebê, sem vergonha de alguém achar estranho, seguramos a barriga como se tivesse fazendo o bebê dormir, mudamos nossa alimentação para que o bebê receba os nutrientes necessários, evitamos ao máximo passar por algum tipo de emoção forte, para que isso não seja refletido lá dentro...esquentamos a barriga para que o bebê pare de soluçar, ficamos todos curiosos imaginando como será seu rostinho, mas apesar da ansiedade, mantemos o controle para que o bebê só saia quando realmente estiver preparado.
Mas de repente, pode haver alguma complicação e tudo o que era esperado começa a ficar muito confuso, incerto e assustador. Se um bebê nascer antes da data prevista, como por exemplo de 29 semanas...ele tem grandes chances de sobreviver, receberá cuidados especiais necessários para um bebê prematuro, ganho de peso, controle da respiração, tudo será delicado demais, mas existem excelentes profissionais preparados para isso, são inúmeras crianças que nascem prematuras e dão um baile em todos, não posso jamais dizer que um recém-nascido prematuro é fraco, pelo contrário, eles lutam minuto a minuto pela sobrevivência com toda garra existente naquele corpinho tão indefeso.
Assim foi com nossa pequena Nicole, no dia 18/08/09 de madrugada, com apenas 29 semanas de gestação ela nasceu, recebeu uma nota muito boa no índice Apgar, mas muito boa mesmo e nem precisou ser entubada ao nascer, pois apesar de todas as dificuldades, ela já respirava sozinha, foi uma verdadeira guerreira e lutou a todo momento para se manter viva. Nossa expectativa de ter a Nicole em nossos braços acabou no dia seguinte 19/08/09 exatamente às 16:24hs.
Hoje minha irmã chora por não ter sua filha em seus braços para amamentar, acalentar, ninar, embalar, o peito latejando e vazando leite, junto com a dor de sua cesárea que não chega aos pés da dor que se instalou em seu coração. Voltar para casa e encontrar um quarto preparado para receber a Nicole, roupinhas lavadas e passadas, penduradas em lindos cabides, fraldas de estoque no armário, enfeites de cabelo, sandalinhas, banheira montada para o banho em casa, bolsa de maternidade e passeio prontas para serem usadas, mas infelizmente estas bolsas tão esperadas, não puderam receber nenhuma troca de roupa sequer, agora está tudo lá...todo o sonho ficou apenas na memória e no coração daqueles que esperaram junto.
Qual é o tamanho da dor de uma mãe que perde seu filho? Até quando esta ferida vai arder? Existe uma data limite para as lágrimas deixarem de rolar pelo rosto? Quais são as regras para quem volta para casa sem o bebê nos braços? O que fazer com um sentimento de culpa que aparece mesmo ser ter culpa nenhuma? Que roupa vestir? O corpo não responde e sofre com a cirurgia, pra quê? Como ficar em repouso com a mente ocupada? Até quando ficar em casa? Contar os detalhes soa como um verdadeiro desabafo, será que todos entendem? Chorar ou segurar o choro? Quando alguém perguntar se está tudo bem, o que responder?
A única certeza que temos é que DEUS está no controle de tudo e as respostas para todas as perguntas somente quem vive a dor pode encontrar, por mais que tentemos entender e dividir o fardo para não pesar tanto, não conseguiremos arrancar a dor do coração de uma mãe que perde o filho...
A imagem que tenho da nossa pequena Nicole, é de uma princesinha linda, traços perfeitos, uma bonequinha, não tive o prazer de tê-la em meus braços, mas fico imaginando como se a tivesse feito dormir, sua mão tão pequenina envolvendo meu dedo, como se estivesse apenas dormindo, cada detalhe perfeito, assim como Deus a fez...
"Aos olhos do Pai você é uma obra-prima que ele planejou
Com suas próprias mãos pintou
A cor de sua pele, os seus cabelos desenhou
Cada detalhe num toque de amor
Você é linda demais, perfeita aos olhos do Pai
Alguém igual a você não vi jamais..."
Antes de tudo acontecer já haviam planos de termos outro filho e mesmo com toda esta situação, a Elaine me chama a atenção para que isso aconteça o quanto antes, pois como pudemos ver, não adianta planejar demais...a ponto de adiar por muito tempo nossos sonhos...quando tem que acontecer...acontece...
Enfim, decidimos que a partir de dezembro tentaremos engravidar, espero em Deus que nosso sonho vire realidade, mas confesso que em meu coração existe a sensação de culpa, como se não fosse justo eu engravidar e ter outro filho antes da minha irmã, conhecendo a Elaine sei que poderei compartilhar desta felicidade com ela, mas por mais que ela tente, eu fico imaginando que em sua mente sempre existirá a lembrança de sua filha...estou confusa e triste por dentro, mas sei também que não posso adiar meu sonho, se conseguirmos engravidar no início é bem provável que o bebê nasça quando o Gabriel já estiver com 5 anos...
E a vida continua...sempre com a direção de Deus...
bjs e fiquem em paz
Dani Carreiro